quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Atrasos de vida

Há coisas que me fazem sentir medo do futuro, em especial o que é relacionado a tecnologia — onde eu posso dar pitaco sem medo de errar. Medo porque nós vivemos em um país que se diz a caminho da plena inclusão digital mas a cada dia que passa prova que é retrógrado, ultrapassado e incapaz de perceber até o que acontece no presente.

Hoje o Google foi multado em 30 mil reais pelo Tribunal de Justiça carioca. Se você parar a notícia por aí vai tentar entender o que o Pai das Buscas fez de tão errado para que precise pagar cinco anos e meio de trabalho de um cidadão comum em multas: talvez um alto funcionário tenha avançado um sinal às 11 da noite em uma localidade de perigo ou outro tenha jogado um papel de bala pela janela do prédio da sede, qualquer uma dessas hipóteses altamente passíveis de multa e rentáveis para o governo. Mas o caso é bem pior: o Google foi condenado a indenizar em 30 mil reais uma mulher que teve um perfil falso publicado no orkut. O perfil continha fotos, informações pessoais e definições homossexuais, liberais e pedófilas sobre a mulher. Pra piorar as coisas a coitada mora em uma cidade pequena e dentre as informações pessoais havia o telefone dela; resultado: uma enxurrada de ligações maldosas e vexame pelas ruas de onde ela mora.

Quando eu digo que tenho medo (em negrito) do futuro do meu país no que diz respeito às novas tecnologias — que surgem e mudam a cada momento e merecem atenção especial da lei e de seus representantes — é porque tenho medo mesmo de como vamos enxergar o mundo daqui a algum tempo. E digo nós porque fazemos parte de uma nação pobre de cultura, excluída digitalmente e que ainda não consegue analisar os limites virtuais de um simples site de relacionamento. Esses limites são aqueles que lemos no rodapé das páginas ou pelos arquivos de ajuda, que começam sempre com os dizeres: "não temos responsabilidade sobre o conteúdo aqui exposto", ou algo do tipo. Isso é extremamente importante pois ao meu ver (e deveria ser também o da lei) isenta de forma irrevogável o publicador do conteúdo do conteúdo publicado, duas coisas muito, muito distintas e infinitamente distantes uma da outra.

Infelizmente nosso país, nós brasileiros como um todo, ainda não conseguimos ter aquela noção intuitiva que nós brasileiros "informatizados" temos sobre a internet, seus fóruns, portais, blogs e todo outro tipo de serviço que exista ou venha existir nela. Daí então partimos do pressuposto que o Google é responsável pelo que veicula, não importa quem tenha criado, não importa que ele diga o contrário; a nossa ignorância, principalmente a dos que ainda nos governam, equipara o usuário comum aos representantes legais de uma multinacional — os que são realmente responsáveis pelo que dizem em nome da empresa.

Somos contradições assim que pisamos no solo virtual: piratas, hackers, ladrões, generalizados, sempre generalizados. Temos 11, 30, 60 anos, mas somos todos tratados com um só estereótipo caduco e preconceituoso. Deixamos de olhar o que realmente acontece pela satisfação da facilidade, pelo brilho do dinheiro fácil. Não nos preocupamos com a verdade, mas com o prático: culpamos o dono do muro pelo pichador sem-educação.

Reboota, Brasil

1 comentários:

Camila Danielle 11 de setembro de 2009 às 14:59  

A falta de conhecimento leva muitas pessoas a pensar como você. O Google é sim responsável pelas informações que ele veicula, pois como veiculador da informação ele pode editar e inclusive retirar do ar todo conteúdo que seja considerado ofensivo e amoral. Como de fato acontece sempre que ocorre alguma denúncia desse tipo.
A questão aqui é que o veiculador da informação é considerado como có-responsável por aquilo que estiver publicando. O Google não pode isentar-se de culpa por publicar conteúdo ofensivo e criminoso. Justamente por ser PROIBIDO LEGALMENTE a veiculação desse tipo de material.
É óbvio que devido a proporção e ao volume de informações enviadas todos os dias é extremamente difícil manter um controle sobre o que os usuários colocam na rede. E justamente por isso que caberia direito de regresso por parte do google contra o usuário que realmente enviou aquele conteúdo. Quando aceita-se os termos para uso das funções oferecidas pelo google é como se fosse assinado um contrato, e publicar informações desse tipo ferem o que está ali disposto.
Dessa forma não é errado dizer que o google tem responsabilidade, porque de acordo com as poucas leis brasileiras que tratam da publicidade, principalmente na internet, é obrigação do site filtrar e editar tudo aquilo que publica.
Não significa que o Google não possa cobrar do usuário que colocou essas informações, pelo contrário, tem todo direito a isso.
Ignorância seria discordar dos procedimentos legais e da justiça sem nem ao menos entender como ela funciona.
Uma simples frase no portal em que diz não se responsabilizar pelo conteúdo que publica não isenta o Google de suas obrigações legais. Se for assim qualquer pessoa poderá publicar qualquer coisa, denegrindo a imagem de outros, publicando e ofendendo a honra das pessoas, ou mesmo difundindo e favorecendo a prática de crimes, como por exemplo a pedofilia, apenas se eximindo de responsabilidade pelo que for publicado.
A lei é a mesma, seja para um simples blog com 100 acessos diários ou para um portal de relacionamentos como o Google, que recebe diariamente milhões de acessos e atualizações.

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